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Desde muito cedo queremos entender o porquê de tudo que fazemos e não há nada que nos motive mais do que um propósito. Pensando no aprendizado de um idioma, as situações cotidianas em que precisamos usá-lo se tornam muito propícias para que a criança veja sentido em falar, ler, escrever e interpretar o Português. Neste artigo e também em nosso workshop dia 15/02 às 9h da manhã, traremos algumas dicas que poderão ajudar os pais a estimular suas crianças nos diversos usos da Língua Portuguesa.
Leitura:
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra”
Paulo Freire
A palavra ler vem do latim legere que significa colher, juntar, reunir. Nesse sentido, quando lemos, estamos juntando o sentido que determinada palavra tem no mundo com o sentido que ela tem para nós, por isso é que nossa leitura não é igual a dos outros e nem mesmo conseguimos ler um livro do mesmo jeito pela segunda vez, porque já não somos os mesmos.
Assim, vemos a importância da mediação na leitura, sobretudo na leitura das crianças, que podem se beneficiar muito ao deixar um pouco de lado a leitura fragmentada e acelerada dos dispositivos tecnológicos e se voltarem mais para os livros, para a contação de histórias, para a discussão junto aos pais daquilo que estão lendo, ou seja, para o compartilhamento de suas leituras de mundo. Confira algumas dicas práticas para incentivar a leitura da sua criança:
Pais leitores são ótimos modelos para seus filhos.
Sabe aquele hábito de contar uma história antes de dormir? Podemos retomá-lo mesmo se o filho já souber ler.
Oferecer o cardápio do restaurante para que seu filho tenha a chance de ler e pedir a própria comida.
Chegou em casa e o filho já estava dormindo? Você pode deixar um bilhete dizendo que passou para dar um beijo de boa noite.
Realizar passeios literários: bibliotecas, livrarias, museus, etc.
Estabelecer limites com a tecnologia. Ao mesmo tempo que os dispositivos digitais são grandes aliados do conhecimento, ler e escrever no papel é muito importante para o desenvolvimento da criança.
Escrita:
“A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções de existência.”
Emília Ferreiro
Em uma conversa com a Miss Souza, uma de nossas professoras no departamento de Português, ela contou-me com bastante entusiasmo de quando, ainda criança, lhe foi dada a missão de atender o telefone em sua casa e escrever em um caderninho os recados que deveriam ser passados para seus pais. Esse tipo de oportunidade de usar a escrita não apenas no ambiente escolar mas em uma situação cotidiana significativa, desperta na criança o desejo de escrever e ao mesmo tempo a ajuda a desenvolver um certo senso de responsabilidade, incentivando-a a participar da rotina familiar. Abaixo, mais algumas maneiras de aproveitar situações do dia-a-dia para que sua criança faça uso da escrita. Desde que de maneira prazerosa e sem cobranças, tenho certeza de que poderão ser momentos muito proveitosos tanto para a criança quanto para o adulto:
Manter sempre lápis e papel ao alcance das crianças e valorizar suas produções.
Guardar folhetos de ofertas e montar juntos uma lista de compras para a próxima vez que forem ao mercado, padaria, shopping, etc.
Incentivar as crianças a escreverem em diários.
Aproveitar os interesses de seu filho/filha: que tal escrever uma carta para seu cantor favorito ou seu jogador de futebol favorito?
Propor a escrita da letra de uma de suas músicas favoritas enquanto a ouve.
Escrever o próprio convite de aniversário e/ou cartão de Natal para a família e amigos.
Interpretação:
“Compreender, eu diria, é saber que o sentido poderia ser outro”
Eni Puccinelli Orlandi
Como professora alfabetizadora, é emocionante acompanhar o trajeto das crianças desde o descobrimento das primeiras letras até a leitura da primeira palavra, do primeiro texto. Mas nada me chama mais a atenção do que quando a criança começa a atentar-se para o sentido dessas palavras. A descoberta de que canto, por exemplo, pode significar tanto o verbo cantar quanto o substantivo que indica um lugar, uma posição geográfica. E como saber de que canto estamos falando? Contexto!
Tão importante quanto saber decodificar uma língua é entender que palavras e textos podem apresentar diferentes sentidos dentro de variados contextos e nada melhor para estimular uma criança do que provocá-la a olhar o mundo de maneira aberta, curiosa, questionando-a sobre o sentido investido naquilo que ela vê e lê. Os pais podem ajudar seus filhos a desbravar o mundo dos significados, descobrindo junto deles, inclusive, que o sentido das palavras podem ser múltiplos e até mesmo diferentes daquilo que imaginaram inicialmente. Vejam alguns exemplos de como fazê-lo:
Depois de ler um livro com sua criança, que tal pedir para que ela faça um desenho sobre a história? Ao te mostrar o desenho e recontar a história, muita interpretação já estará acontecendo.
Ao ver um quadro, pintura ou grafite com seu filho, você pode questioná-lo com perguntas que vão além do “você gostou?” Perguntar o que certa cor ou imagem o fez sentir, vai fazê-lo refletir ainda mais sobre a obra vista.
Conversar sobre o livro que ele está lendo ou sobre um filme que viram juntos é uma boa maneira de despertá-lo para os significados daquilo que ele leu ou assistiu.
Um passeio pelas ruas de São Paulo expõe a criança a diversos portadores de texto, propagandas e até mesmo obras de arte inusitadas. Caso alguma dessas coisas lhe chame a atenção, instigue-a perguntando o que ela acha que aquilo quer dizer.
Enfim, são muitas as maneiras de incentivar uma criança a usar e valorizar um idioma e nada mais rico do que fazê-lo de modo contextualizado, ou seja, fazendo a criança sentir que ela lê, escreve e interpreta para diferentes finalidades. Tais práticas, quando propostas no dia-a-dia familiar, são potencializadas pelo vínculo que as crianças têm com seus familiares e se feitas de maneira prazerosa tanto para a criança quanto para o adulto, sem preocupações com prazos ou correções, ajudam a despertar e manter o gosto da criança pela leitura e escrita.