Quando ouvi falar de metacognição pela primeira vez, cerca de 10 anos atrás, eu era um professor recém-formado, no início da carreira, pronto para experimentar diferentes abordagens. A sala toda prestava atenção quando a professora que conduzia o treinamento disse: “Tem tudo a ver com pensar sobre o próprio pensamento.” Os suspiros foram audíveis. No entanto, à medida que a reunião avançava, ficou claro que ninguém realmente entendia o que aquilo significava. Quer dizer, claro que queremos que nossos alunos pensem sobre o próprio pensamento, mas não era evidente para ninguém como isso realmente se fazia. A metacognição acabou sendo deixada de lado, enquanto outras iniciativas ganhavam destaque.
Avançando nove anos, já com mais experiência e participando de um curso de liderança, eis que o tema volta à tona: metacognição. Dessa vez, foi introduzida por meio das pesquisas da Education Endowment Foundation (EEF): uma fundação independente do Reino Unido que busca melhorar os resultados educacionais promovendo abordagens de ensino e aprendizagem baseadas em evidências sólidas. O guia deles, que é uma meta-análise de diversas estratégias educacionais, é praticamente uma bíblia da educação; na minha opinião, se eles dizem que funciona, então funciona. Durante essa sessão de treinamento, fiquei surpreso ao descobrir que a metacognição pode adicionar, em média, 7 meses extras de progresso por ano na aprendizagem de uma criança. Isso pode representar a diferença entre uma nota D e um A* no GCSE, se acumulado ao longo dos anos do ensino secundário. Em resumo: esses ganhos são valiosos demais para serem ignorados. Mas ainda me restava a pergunta: “Como, de fato, usamos a metacognição?”
Comecei então uma imersão profunda em toda a literatura disponível sobre metacognição. Descobri que esse conceito está longe de ser novo — psicólogos educacionais já falam sobre isso desde 1976, quando o termo foi cunhado por John H. Flavell. Como costuma acontecer, a teoria levou um tempo até chegar à prática. A partir da minha pesquisa, consegui consolidar a metacognição em 7 elementos compreensíveis e aplicáveis na prática do dia a dia escolar:
Um conjunto de estratégias para promover a autonomia;
Planejar, monitorar e refletir;
Professor modelando explicitamente seu processo de pensamento (pensamento em voz alta);
Autorregulação;
Desenvolvimento de comportamentos de aprendizagem específicos;
Conhecer e entender seus pontos fortes e áreas de melhoria;
Automotivação.
Inserir o ensino e a aprendizagem metacognitiva no cotidiano é atualmente um foco importante da Nord Anglia — e com razão: isso pode transformar os resultados educacionais dos alunos, sua postura em relação à educação e até mesmo sua mentalidade em outras áreas da vida. A seguir, explicarei como começamos a aplicar esses elementos de metacognição no Ensino Fundamental da BCB.
Quanto mais as crianças conseguem resolver um problema por conta própria, mais fortes são as conexões formadas no cérebro. Isso envolve habilidades como tentativa e erro, resolução de problemas e o entendimento das ferramentas e recursos necessários para chegar à solução. No BCB, usamos um sistema chamado 4Bs para ajudar os alunos a se tornarem aprendizes mais independentes e criativos.
O primeiro B é Brain (cérebro) — antes de qualquer coisa, os alunos devem pensar o máximo possível; verificar se entenderam o desafio; fazer a si mesmos perguntas como “se eu fizer x, consigo fazer y?”; e tentar abordagens diferentes, como “já que isso não funcionou, tentarei z.”
O segundo B é Box (caixa) — os alunos devem usar os recursos disponíveis na sala para superar o problema. Pode ser uma informação no quadro, cartazes, materiais fornecidos pelo professor ou até a internet! Sempre temos tablets disponíveis para pesquisa.
O terceiro B é Buddy (colega) — temos uma cultura forte de duplas de aprendizagem no BCB, e nessa fase, os alunos pedem ajuda ao parceiro como se ele fosse um professor.
O quarto e último B é Boss (chefe) — aqui, os alunos recorrem ao professor, mas devem ser específicos, por exemplo:
Você pode me dar uma dica para começar?
Pode me dar outro exemplo?
Pode fazer isso comigo?
Essa abordagem é bastante lógica, mas difícil de aplicar bem. Em resumo, os alunos criam uma estratégia de como irão abordar uma tarefa, monitoram o andamento durante sua execução e, por fim, refletem sobre o que fizeram e ajustam o que for necessário. Embora todas as etapas sejam importantes, considero a fase de monitoramento a mais desafiadora — e a mais negligenciada pelas crianças.
Ela precisa ser guiada por critérios de sucesso que os alunos consultem regularmente para avaliar o próprio desempenho. Além disso, devem ser constantemente incentivados a desacelerar, revisar seu trabalho e fazer correções quando necessário. A pressa é inimiga desse processo. Há alguns anos, adotamos a política do "sem borracha", na qual os alunos corrigem seus erros com caneta roxa (a cor da Estrela da Reflexão). Isso ajuda a enxergar os erros como parte do processo de aprendizagem (afinal, errar é crescer!) e oferece uma ferramenta prática para apoiar o monitoramento.
As crianças precisam ver como um especialista pensa para que possam aprender a pensar como um. Por isso, os “pensamentos em voz alta” são parte fundamental da nossa metodologia. Ao explicar um conceito, o professor resolve um problema em voz alta, mostrando no quadro exatamente como raciocina. Em seguida, geralmente propõe um momento de “Sua Vez”, no qual os alunos resolvem um problema semelhante com um parceiro, praticando o mesmo raciocínio.
Eu diria que quase toda aula eficaz deve conter um exemplo de pensamento em voz alta. Tentamos incluir essa técnica com frequência, especialmente em aulas de matemática, escrita e leitura, quando ensinamos habilidades específicas.
Sem dúvida, essa é uma das habilidades metacognitivas mais importantes. O estado emocional do aluno durante a aprendizagem impacta profundamente o progresso — mais do que se imagina. Por isso, ensinar estratégias para manter a mente no melhor estado possível para aprender é essencial. Um recurso visual que usamos vem da Pathway 2 Success, que organiza esses elementos de forma eficiente, mas vou destacar duas das estratégias mais utilizadas no BCB:
Brain Breaks (pausas cerebrais) são atividades curtas, rápidas e divertidas que permitem aos alunos “redefinir” o estado emocional e voltar ao foco. Podem ser:
Calmantes, como alongamento e respiração;
Energizantes, como correr para tocar todas as cores do arco-íris pela sala;
Focadas, como o “Scissor Wink” (piscar com o olho direito enquanto faz um movimento de tesoura com a mão esquerda).
Zones of Regulation ensinam sobre quatro zonas emocionais:
Zona Azul – emoções de baixa energia, como timidez, tristeza e frustração;
Zona Verde – sentimentos “bons”, como alegria, calma e confiança;
Zona Amarela – sentimentos elevados, como excitação, preocupação ou vergonha;
Zona Vermelha – emoções negativas intensas, como raiva ou ciúme.
Essas zonas estão sempre visíveis em cada sala do ensino fundamental, e os alunos podem mover seus nomes para indicar como estão se sentindo. Isso permite que o professor (e os colegas) ajustem sua comunicação e comportamento de forma mais empática. Além disso, os alunos podem conversar com o professor quando estiverem sentindo algo intenso que gostariam de compartilhar.
Fique ligado na parte dois deste blog, onde discutirei os três últimos dos sete componentes da metacognição, além de apresentar as thinking routines e o Projeto DELTA – uma parceria entre a Nord Anglia e o Harvard Project Zero, da qual faço parte como pesquisador.